Por um Reset Conservador-Liberal
Ficou claro que existe uma gigantesca batalha no mundo. De
um lado, a liberdade e a dignidade humanas, fundamentadas na realidade humana:
a realidade de um ser que possui uma dimensão espiritual em conjunto e
inseparavelmente da dimensão material. E do outro lado, um grande arco de
ideologias, programas, práticas, grupos de interesse, correntes de pensamento,
associações e atitudes contrárias àquelas liberdade e dignidade.
De fato, existe hoje ao redor do mundo uma imensa, profunda
e complexa trama de interesses que une:
a grande mídia;
o narco-socialismo (única forma de socialismo capaz de
sobreviver no longo prazo);
a corrupção;
a bandidagem em geral (crime organizado);
o sistema intelectual politicamente correto;
o climatismo (uso da questão climática como instrumento de
controle econômico);
o racialismo (programa de organização da sociedade segundo o
princípio da raça);
o covidismo (a histeria biopolítica e sua utilização como
mecanismo de controle);
o terrorismo;
o multilateralismo antinacional (distorção e manipulação do
sistema multilateral composto pelos
organismos inernacionais);
a ideologia de gênero;
o abortismo;
o trans-humanismo;
o anticristianismo e a cristofobia;
o esquema de alguns megabilionários ou trilionários;
o elitismo transnacional;
e o marxismo de mercado megatecnológico ou neomaoísmo.
Embora algumas dessas correntes pareçam distantes umas das outras, trata-se de vasos comunicantes: quando se alimenta uma, todas comem. Quando uma avança, todas progridem. Quando uma vence, todas ganham.
Como num jogo de xadrez, cada um desses elementos, ao
mover-se ou ao permanecer onde está, embora fisicamente independente dos
demais, exerce uma função em favor do conjunto. Cada peça protege uma ou mais
outras peças do mesmo time e ataca uma ou mais peças do adversário, cada uma
ocupa espaços em benefício de todo o time, cada uma cria linhas de força e
possibilita, em jogadas futuras, novas agressões e novas ocupações. Não parece
haver um jogador único por trás das peças planejando todos os movimentos, mas é
como se o sistema se jogasse sozinho, ou melhor, é como se as peças do time
anti-liberdade soubessem que estão jogando juntas e compartilhassem uma mesma
estratégia. Alguns elementos têm mais consciência do que os outros, mas todos
possuem instintivamente, mesmo sem sabê-lo, a percepção de uma estrutura comum
que os coliga e os promove a todos, e agem de acordo com esse instinto.
Podemos ver esse grande esquema também como um grande
conglomerado composto por muitas companhias, cada uma delas vendendo seus
produtos sob diferentes marcas, sem que o público saiba, e talvez sem que os
próprios dirigentes e empregados de cada companhia saibam, que tudo faz parte
do mesmo conjunto, que o lucro de cada uma dessas companhias aumenta a
capacidade de investimento da outra. Assim, quando você compra a biopolítica do
"fique em casa" talvez esteja ajudando o narcotráfico. Quando compra
o multilateralismo anti-nacional talvez não perceba que está ajudando a
corrupção. Ou talvez saiba e não se importe. Talvez saiba e ache bom.
Podemos chamar todo esse conjunto de “globalismo”. Trata-se,
fundamentalmente, da globalização econômica capturada pelo marxismo, fenômeno
que começou logo após o fim do bloco soviético e se intensificou a partir do
ano 2000, embora seus impulsos destrutivos tenham raízes milenares. O
globalismo nasceu quando a globalização capitalista, ao esquecer o espírito,
entregou-se inconscientemente ao comunismo em sua metástase pós-soviética, ou
seja, o marxismo de Gramsci e da New Left, da Revolução Cultural (tanto a
ocidental quanto a chinesa), que sempre almejou ocupar o capitalismo por dentro
em vez de enfrentá-lo de fora, e hoje está conseguindo. O atual modelo maoísta
e sua expansão crescente pelo mundo é uma das principais expressões e
resultados dessa triunfante penetração do capitalismo pelo marxismo.
Vemos o processo de uma estranha alquimia ao inverso, que
vai conseguindo transformar o ouro espiritual em chumbo inerte. Que escraviza
as melhores energias do ser humano - a ciência, a tecnologia, o pensamento, a
arte, enfim o logos - em favor de uma cultura da morte, da mentira e da
maldade.
“Você não terá nada e será feliz”, diz a propaganda do Great
Reset. Nesse mundo, de fato, o ser humano não terá nada, nem liberdade, nem
dignidade, nem vida espiritual. Será “feliz” como uma pedra é feliz, sem sentimentos,
sem pensamentos, tendo todas as suas “ideias” geradas pelo mecanismo
megatecnológico de controle total.
Tudo isso, todas as peças do xadrez, todas as companhias
pertencentes à mesma holding, não constituem um sistema totalmente coordenado,
mas um grande organismo de afinidades eletivas conjugadas no ódio à
transcendência e no desejo de arrancar ao ser humano sua dimensão espiritual.
Por que esse ódio? Não se sabe. Eis aí talvez o “mysterium
iniquitatis” de que fala São Paulo na segunda Epístola aos Tessalonicenses.
De qualquer modo, muitas pessoas, em todo o mundo, estão
despertando para a natureza desse monstruoso projeto e para a urgência de
combatê-lo pela sobrevivência da humanidade. O ano de 2020 começou a expor a
situação. O misterioso complexo anti-liberdade mostrou ao menos parte de seu
rosto, com o lançamento do conceito de Great Reset e com a ideia de restauração
de uma certa “ordem mundial liberal” diante da perspectiva de mudança de rumo
nos Estados Unidos.
Em 2021 há que seguir estudando e combatendo esse misterioso
e iníquo sistema, a partir dos dados que ele mesmo proporciona, rasgando o véu
de cinismo e hipocrisia que cobre suas palavras. Lembremos que o mal raramente
diz “eu sou o mal”, mas de maneira insidiosa apresenta-se como se fosse o bem,
com as roupagens da paz e da felicidade. O ser humano, contudo, possui (na
medida em que preserve sua posição vertical, espiritual) a inteligência e a
sensibilidade necessárias para perceber esses enganos e buscar a verdade.
Não se trata aqui de uma questão puramente filosófica, nem
muito menos de teoria da conspiração. Trata-se de procurar entender as forças
em ação no mundo para defender e promover os interesses muito reais - materiais
e espirituais - dos brasileiros e de todas as pessoas de bem no mundo.
A seguir, algumas sugestões para compor uma agenda de defesa
da verdadeira democracia, com liberdade e dignidade para o ser humano.
Dirijo-me principalmente àqueles que se dizem e se acham sinceramente
democratas, liberais e humanistas mas se deixam levar pelo complexo
liberticida:
Respeitem a Nação, pois nela está o coração pulsante da
liberdade e das aspirações da comunidade humana.
Respeitem as liberdades fundamentais consagradas na
Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Respeitem o povo, respeitem os povos e as pessoas, não
tentem constituir-se em um mágico conjunto de sábios capazes de dar um “reset”
no mundo. Tenham humildade. Nada de despotismo esclarecido globalista. Não
caiam na ilusão de tornarem-se “reis- filósofos” de Platão, testas-de-ferro de
um regime totalitário. Entendam que a democracia se faz de mais “demos” e menos
“kratía”. Deixem de rotular e desmerecer os líderes de direita como
“populistas”, quando eles são simplesmente populares, porque amam o povo, respeitam
os sentimentos do povo, exprimem-nos e defendem-nos.
Estudem e entendam de onde vêm as ameaças à democracia, e de
onde não vêm. Saibam quem é quem.
Contribuam para uma economia mundial que proporcione reforço
positivo para os países democráticos e reforço negativo para os países
não-democráticos. (Hoje, em geral, é o contrário.)
Ajudem a colocar a economia capitalista a favor da
democracia, da liberdade e da dignidade humana, e não a favor do controle
social totalitário.
Ajude a tornar as novas tecnologias instrumento de
democracia e não de controle social. Trabalhe para que o mundo não se torne uma
grande “internet das coisas” onde as pessoas sejam meramente coisas entre
outras coisas, onde uma pessoa humana não seja meramente um conjunto de dados.
Que o mundo virtual seja uma grande internet das pessoas, e não das coisas,
pessoas trocando sentimentos e ideias livremente e assim gerando prosperidade e
vivendo sua humanidade.
Parem de demonizar a religião, pois a religião é um veículo
privilegiado para a espiritualidade. Parem de achar que o ateísmo é mais
“evoluído” do que a fé. A perda da faculdade de conduzir uma vida espiritual
não representa nenhuma evolução. Rejeitar o espírito humano é o oposto de
qualquer coisa que se possa chamar honestamente de humanismo.
Parem de deixar que os organismos multilaterais sejam
manipulados por atores não-democráticos para seus próprios interesses (como o
foram durante a Guerra Fria pela União Soviética). Injetem os ideais e ideais
de liberdade e democracia no sistema multilateral e em todas as discussões
internacionais. De que vale um democrata que tem medo de falar de democracia
para não ofender os anti-democráticos?
Entendam que o mundo não deve organizar-se em torno do eixo
do “desenvolvimento sustentável” nem do eixo da “saúde”. Colocar na mais alta
prioridade mundial esses temas “globais” que não têm nada a ver com a liberdade
apenas serve aos interesses dos anti-democráticos. Tratem o desenvolvimento
sustentável, a saúde e todos os outros temas ditos “globais” a partir da
perspectiva da liberdade, e não o o contrário, não tratem a liberdade a partir
da perspectiva do desenvolvimento sustentável, porque isso ferirá de morte a
liberdade e não trará desenvolvimento algum.
Parem de dizer que “temas globais requerem soluções
globais”. Problemas globais requerem soluções pró-democracia, pró-liberdade,
pró-dignidade humana. Muito mais importante do que “reconstruir verde” é
“reconstruir livre”.
Estudem e entendam a penetração de forças anti-democráticas
na imprensa, nas instituições e nas empresas em países democráticos, penetração
tanto em termos de mentalidades quanto em termos de agentes efetivamente
atuantes.
Coloquem a liberdade de expressão no centro da liberdade,
pois ela é a seiva vital da humanidade. Entendam de que maneira e em que
extensão a grande mídia nos países democráticos é manipulada por forças
anti-democráticas e torna-se instrumento de aniquilação da liberdade de
expressão e da liberdade de pensamento. Entendam que a maior arma das forças
anti-democráticas hoje é o ataque à liberdade de expressão sob pretexto de
combater fake news.
Parem de colar rótulos nas garrafas e achar que, ao colar o
rótulo, já beberam o vinho ali contido. Não sejam enólogos que conhecem todos
os rótulos mas jamais sentiram uma gota de vinho na língua.
Prestem atenção de onde vêm as ideias que você consome e que
acabam direcionando o seu pensamento. Não se preocupem apenas com os
ingredientes do que vocêm comem, mas com os ingredientes do que vocês pensam, a
procedência das ideias-feitas que circulam por toda parte, sua qualidade, a
capacidade de corromper seu organismo mental que essas ideias possuem.
Preocupem-se não apenas com as cadeias de suprimento de produtos industriais,
mas também com as cadeias de suprimento de ideias: como são montadas, que
interesses atendem, que tipo de mundo promovem.
A direita, o conservadorismo, são fundamentalmente e
intrinsecamente pró-democracia e pró-liberdade. Se você se acha liberal e não
quer ser chamado de direitista ou conservador por causa de preconceitos que
incutiram em você, vá lá, mas não fique preso aos nomes e entenda que a direita
e o conservadorismo querem a mesmíssima coisa que você diz querer, liberdade,
um mundo favorável à liberdade.
Liberal, dê a mão ao conservador, aceite a mão que o
conservador lhe estende. Somente o conservador pode salvá-lo das garras do
marxismo. Somente juntos você e o conservador podem salvar o mundo.
O mundo, o sistema internacional “liberal” que você está
criando, não é um mundo seguro para a democracia, “safe for democracy”. É um
mundo “safe for totalitarianism”. Veja quem está ganhando nesse sistema
“liberal”, quem se torna hegemônico, quem está ganhando as corridas de acordo
com as “regras” que você tanto preza.
Uma ordem liberal internacional somente será sólida e
verdadeira se for uma ordem liberal-conservadora internacional. Uma ordem
liberal internacional nunca se sustentará sem o conservadorismo.
Entenda o que é o conservadorismo e estude-o.
Conservadorismo é: liberdade individual em equilíbrio com a saúde da
comunidade, a Nação acima do Estado (menos Estado, mais Nação), liberdades
fundamentais clássicas (de expressão de opinião, de crença, de não ser preso
arbitrariamente, direito ao devido processo legal, direito a escolher seus
governantes, direito à vida, etc.), respeito, amor e cuidado pelos seus
ancestrais, pelas lutas e sentimentos das gerações passadas, cuidado e devoção
pelas gerações futuras, pelo passado histórico, pelas tradições, amor à família
e à pátria como família estendida, cultivo da beleza, da coragem, da virtude,
pensamento constituído pela busca da verdade e não pela construção de vantagem
política, respeito à língua entendida como logos, instrumento divino de
comunicação, estudo da realidade e expressão do sentimento, e não como meio de
distorcer a realidade, prática ou pelo menos respeito da religião como veículo
da espiritualidade intrínseca ao ser humano, equilíbrio entre a razão e o
sentimento, humildade diante das limitações da razão humana e percepção de que
nem todo conhecimento é racional e nem toda verdade é científica.
O conservadorismo é o corpo da liberdade, a liberdade em sua
versão concreta.
Se querem Great Reset, que seja esse o Reset: liberalismo e
conservadorismo juntos pela liberdade e pela democracia.
Fonte: Ernesto Araújo, Ministro das Relações Exteriores
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