Por: Dalva Mansur
IPEDS
Recentemente, recebi de um amigo muito ativo na sua denuncia social, uma carta falando sobre a catástrofe na região serrana.
O que dizer?
Nós aqui na região litorânea temos o mesmo problema, o Rio de Janeiro tem o mesmo problema, mas as pessoas insistem, os políticos querem votos, e afinal vinte, ou trinta anos são muito tempo e as pessoas esquecem. e ai voltam a fazer o que os outros já fizeram antes,
Em 1966, eu estava no meio da tromba d’água que caiu no rio de janeiro, e trabalhei no auxilio aos desabrigados, não esqueço nunca o que vi!!, tenho até hoje horror a construções em encostas...mas parece que sou a única.
Em 67 eu fiquei retida em Teresópolis por quinze dias pois não havia estrada para descer, o caminho só se fazia por Petrópolis, e como estava grávida fiquei por lá para não fazer viagem longa. mas as pessoas esqueceram, naquela época o que caiu foi o Soberbo.
Perdi amigos em Friburgo,perdi cenários em Teresópolis e em Petrópolis. perdi referencias da minha juventude, lugares ambientes antes de felicidade. Eu que tenho a mania de procurar nascentes de rios, e pequenas cascatas pra tomar banho, não sei mais onde elas estão. As nascentes estão lá, mas os rios mudaram seu curso, e as pequenas quedas d’água desapareceram aterradas, e transportadas pelas suas próprias águas.
Agora temos planícies de aluvião, e como em qualquer catástrofe geo-hidrológica, teremos fosseis de humanos , e animais e plantas que não sobreviveram ao movimento de águas e terras. Daqui a milênios alguém estará escavando e encontrando estes testemunhos.
E nós que pensávamos que no Brasil não haviam terremotos, tínhamos até aquela piada que dizia:
-Deus, todos os países, tem cataclismas, terremotos, vulcões, geadas, inundações, etc....
-olha o Brasil , lá o Sr. não colocou nada de ruim!!
e Deus respondia,
-Você não viu ainda o povo( ou os governantes) que eu coloquei lá!!!
Agora nós descobrimos que o povo até que é bom ,simplório até, bem intencionado, solidário, mas os governantes,,,,, são permissivos e clientelistas, e vivem contabilizando quantos votos podem advir de uma concessão de áreas para moradia, mesmo sabendo que estão colocando em risco a vida das famílias.e como simplórios que são sempre acham que Deus é brasileiro e que nada vai ocorrer. Uma casa não afeta a encosta, poucas casas não oferecem perigo, a desgraça só acontece em outros lugares.
Entretanto temos terremotos, enchentes, deslizamentos, chuvas, e até tornados, mas que isto só acontece, porque não temos memória, nem aprendemos com nossos erros, continuamos sim querendo levar vantagem, e um puxadinho, um andar a mais, uma construção na margem do rio, uma extensão de terra isso é levar vantagem .somos coniventes com invasões, desmatamentos, lançamentos de lixo no meio da mata, somos pusilânimes em aplicar as normas e leis que alguns se deram ao trabalho de elaborar, mas somo rápidos em acudir na hora da tragédia, parece que a responsabilidade se distribui entre todos, quando deveria ser distribuída na hora de impedir a invasão, a construção em Faixa Marginal de Proteção ( FMP), a subida da encosta para construir ou deixar o gado pastar.
Todos somos responsáveis, todos vimos o crescimento descontrolado das cidades serranas, da mesma maneira que estamos vendo as invasões de FMP e o lançamento de aterros nos rios da nossa região, e também das poucas morros que temos na região, mas por enquanto são poucas as moradias, não vai acontecer nada, afinal a região serrana, fica muito longe de nós. Com este pensamento simplista vamos concedendo as formas de expansão e ocupação desordenada do solo urbano.
Será que em algum dia vamos aprender? Ou vamos esquecer nos próximos dois ou vinte anos?
Por: Dalva Mansur
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